- Max Medeiros -

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O silêncio do olhar O silêncio das imagens O silêncio das palavras

O que segue são instantes em imagens e palavras dos 270 metros de rua que, a partir de minha residência, beiram um afluente na foz do Rio São João, em Casimiro de Abreu. A composição dos versos a partir das fotografias, as fotografias, por sua vez,  de um olhar sobre o cotidiano em seus silêncios.  O formato de stories sugere o mesmo desafio, pois já é fraca essa fronteira para o virtual.  O que resulta é meu Findo Rio.

Se o dia nasce Se o dia morre A gente acorda A gente dorme O rio corre.

Portal de folhas me atravessa pra dentro d'água

Portal de folhas me atravessa pra dentro d'água

é o fim do caminho

é o meio do rio

Se há um rio Após o fim do caminho Após a parede de espinhos Após o nível do chão Após a embarcação Após o findo rio.

Na ponta do pé o rio toca o céu

O gato na beira Viu o gato n'água verde Lambeu-se, repulsa por tanta sujeira Mais tarde, Sonhou que era  peixe.

- Não é garça - Disse o pescador. - Garça voa em bando. Ele vem sozinho. Terças, quintas e sábados. Dizem que é espírito, de antes da rua, de antes das casas e dos canos, de antes das pessoas e dos donos da terra, quando só tinha leito e floresta. No rio, já não cabe. Virou garça pra ficar perto. Se um dia voa pra lua ou volta pra água, ninguém sabe.

Abra a janela, meu amor Meu barco vai passar Sigo a viela, toco o motor Hoje não posso parar Vou na tijela sobre o rio São João, meu raptor Só me encerra um desafio Voltar quando o sol se pôr.

Um troll veloz À espera meia luz À espera meia sombra Da gargalhada Da criança

O pássaro é o instante Onde incide a luz Na região Entre o vôo e o espaço Quanto mais longe do chão Menor o vão

- O tamanho de quem olha esconde ou revela o labirinto Disse a formiga, com uma soma de  quinze letras - Se visto da cima da folha se agora ou no espaço extinto Escala que só intriga quem se descobre entre as estrelas

Ao abrigo me obriga o risco. Casa é teto à luz dos meus próprios passos Refúgio, esse buraco no meio  do mundo

Prólogo

Capítulo único

Posfácio

Já quis bangalô na selva Já quis tenda no deserto Já quis casa no campo Agora nem teto Quero lama, luz, ar e relva Até que o frio na floresta me leve do rio ao mar aberto.

NOTÍCIA

30 de março de 2021

HÁ DANÇA NA LAMA

Observatório de afluentes

Só o que a vida me pede Três traços de veios Pulsando nesse Fogo perene Sob a pele.

A árvore Depois de muito navegar De dias tristes e felizes Cansou-se d'água Parou à margem Pra se lembrar Que tinha Raízes

Não importa que te prenda ao céu Ainda é corrente

Quando se é folha mas grita como vento constante e pungente

Quando se é gota mas rio é o que corre dentro da gente

Por fim, poesia.

Este projeto foi viabilizado pelo "Prêmio: Poeta Casimiro de Abreu", no município de Casimiro de Abreu pela Fundação Cultural, através da Lei Federal Aldir Blanc nº:14.017/2020.